Sem dinheiro, atriz dizia que os amigos não a procuravam.
DO G1
Quando descobriu que tinha câncer, há cerca de oito meses, Normal Bengell sempre teve esperança que ficaria curada. Só desacreditou na vida quando foi internada pela última vez, no sábado (5). Ela morreu, aos 78 anos, na madrugada desta quarta (9), se sentindo sozinha, segundo Luciane Marques, amiga, cuidadora e procuradora da atriz, com quem dividia um apartamento em Copacabana, na Zona Sul do Rio.
“Ela me falava que quando tinha dinheiro, ela tinha amigos. Depois que ela ficou sem dinheiro, os amigos sumiram”, contou Luciene Marques. Segundo a procuradora, apenas o ator Ney Latorraca ligava e procurava notícia de Norma.
Há três anos, a atriz vendeu tudo que tinha para sobreviver. Durante a dificuldade financeira, contou com a ajuda de Miguel Falabella, Daniel Filho e Carlos Manga.
Câncer no pulmão
Segundo Luciane, a artista passou mal há oito meses e foi submetida a uma biópsia. Após o exame, descobriu que estava com câncer no pulmão. “Era muito agressivo e tinha dominado o pulmão esquerdo. Ela não quis fazer quimioterapia, ela queria morrer em paz, e dizia que o tratamento causava muito sofrimento”, contou, reforçando a esperança da amiga de sobreviver mesmo sem tratamento.
REPERCUSSÃO
Devido à dificuldade de locomoção, Norma não tinha condições de ir ao banco receber os R$ 2,9 mil da anistia política. “Era com esse dinheiro que ela vivia. Eu tinha que ter procuração para pegar no banco. Ela não queria ir para o Retiro dos Artistas, preferia morar comigo”, contou a cuidadora.
No sábado, a atriz voltou para o hospital e apresentou quadro de infecção pulmonar, segundo Luciene. “O médico me chamou e disse que era um caso terminal, porque não tinha mais jeito. Ela sempre esteve lúcida. Ela só me pedia para vir para casa: Lu me leva pra casa, eu quero morrer em casa, não quero morrer no hospital”, revelou.
'Minha cabeça está a mil', dizia
Norma se queixava muito das limitações físicas, segundo a procurador. “Ela me dizia: o que mais dói é que o meu corpo não reage, não serve mais para nada, mas a minha cabeça está a mil. Isso era a pior coisa pra ela.”
As últimas palavras entre as duas foram relembradas com emoção por Luciene. “Eu perguntei pra ela: Dona Norma, a senhora está se sentindo bem? E ela disse que achava que estava indo para algum lugar, mas não sabia para onde. Eu acredito muito que Jesus existe, então eu falei para ela aceitar Jesus como salvador, e ela disse que aceitava”, contou, com a voz embargada.
Todos os dias a televisão estava ligada para acompanhar as novelas. “Ela era uma noveleira, adorava”, relembrou.
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